Sérgio Augusto Carvalho é um jornalista que se dedicou à política, com intensa atuação na Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Mas é também um experiente "chef " de delícias culinárias, mais dedicado hoje a servir aos amigos. Aposentado e "bon vivant", um dos bons companheiros de caminhadas matinais na pista do Parque da Barragem Santa Lúcia, Sérgio estréia no Blog com um artigo gostoso. Leiam e soboreiem.
Mercado Gastronômico
Sérgio Augusto Carvalho
O Bistrô Doméstico
Está
crescendo nas grandes cidades uma coisa interessante: pessoas que aprendem a
cozinhar com alguma competência estão abrindo suas residências (casa ou
apartamento) para receber clientes que queiram degustar as suas comidas.
Um
Bistrô Domestico. Ao invés do restaurante, o cliente vai à casa do cozinheiro.
As mesas são montadas na sala e na copa (ou sala de jantar).
Nada de
valete, garçon, cardápio e conta cara.
Só não
sei se a pessoa fica à vontade como num restaurante aonde pode reclamar,
derramar vinho na toalha, falar alto, pedir o petisco de uma lista farta, etc.
Duvidas
à parte, cozinhar em casa para um grupo de 10 a 16 pessoas é uma tarefa, se não
for boba, das mais fáceis e agradáveis.
O
importante é que quem escolhe a comida é o cozinheiro. Ele cria o cardápio dia
a dia. Pode ser anunciado com antecedência ou uma surpresa. Vai cedo ao mercado
procurar matéria prima para seu evento. Sabe onde procurar partindo da
qualidade do produto, não da relação que existe entre o trabalho e o lucro
(muitos compram produtos de segunda para não aumentar o preço do prato).
Se o
peixe não esta fresco, nada de peixe. Se o espinafre amarelou, vamos de taioba.
A carne vermelha, diferentemente do peixe, está sempre fresca por causa da intensa procura. E a relação com o
fornecedor (açougueiro) facilita mais ainda, pois ele já sabe como é o corte, a
porção e o tipo de carne para cada necessidade do cozinheiro.
Até o
clima permite uma serie interminável de variações no menu. O frio leva às
sopas, cozidos, assados, fondues e bebidas mais pesadas.
O calor
sugere saladas, ceviches, caldos frios e tantas outras comidas leves. O resto
do ano fica no banho-maria: qualquer coisa entre o frio e o calor.
O
funcionamento do jantar em domicilio (ou Bistrô Domestico) é mais ou menos
assim: o cliente liga e reserva tantos lugares para a noite; o horário é o
mesmo para todos. Com a lista completa (é possível até saber se o cara tem
alguma restrição alimentar – tipo “não posso comer bacon” ), o cozinheiro vai à
luta em busca dos ingredientes.
É
possível fazer o mesmo trajeto de compras diariamente. Aí a cabeça não para de
funcionar. E o menu da noite vai sendo criado.
“Esse
linguado dá pr’aquele enroladinho com vieiras...”. E se não encontra vieiras?
Aí ele leva vantagem sobre o restaurante: se não tem um dos itens da receita,
troca por outro. Sempre tudo fresco, nada de congelados.
Quando é
necessário encomendar algum ingrediente o fornecedor não fica numa saia justa,
pois não existe prazo para entrega dos pedidos, desde que eles cheguem frescos
ao destino – nesse dia o produto entra no cardapio. Assim fica fácil fazer
compras em outras cidades ou estados onde certos produtos são produzidos
(importados).
Uma truta produzida na Serra da Mantiqueira
pode ser pescada nas primeiras horas da manhã e chegar a BH poucas horas
depois.
Feita a
feira, é hora do mis em place. Tanto na sala quanto na cozinha, a organização
do trabalho é fundamental para que nada saia errado. Aí entra uma despesa, a
possivelmente única que o cozinheiro de domicilio vai ter: um ajudante para
operar tanto na arrumação do local da refeição – toalha, pratos, copos,
talheres, guardanapos - quanto na preparação do jantar – cortar, picar, lavar,
servir.
Para 16
pessoas é moleza!
Quem
assistiu A Festa de Babette pode ter uma ideia do que é fazer uma bela comida
em casa e servir um grupo limitado de clientes com a garantia de que a
qualidade do que será servido é intocável.
Para a
ideia ficar ainda mais atraente vem o melhor: o cozinheiro marca a hora do
jantar (começo e fim) e serve sem atraso. Quem quiser leva o vinho e paga a
rolha. Ou abre uma garrafa da casa – o lucro já aumenta.
E a
função acaba com um café, um licor e a notinha, colocados à disposição na hora
marcada. Nada de cartão de credito nem do pendura!
A
limpeza fica por conta de uma máquina de lavar louça domestica, a mesma do dia
a dia, e da ajudante do mis em place.
Resultado:
o cozinheiro satisfez seu ego e os clientes tiveram uma noitada sem atropelos e
imprevistos.
Uma
noitada destas com antepasto, entrada, prato principal e sobremesa não precisa
passar dos R$60,00 por pessoa – em média. Sem bebida. Para o cliente, muito
abaixo do que ficaria num restaurante. Para o dono da casa, um ganho superior
ao que teria em um restaurante.
Lucro
possível (sem bebida, sem aluguel, sem encargos, em cinco dias da semana): mais
de R$8.000,00 por mês. Limpinhos, SEM IMPOSTO!
Infeliz
– ou felizmente – não dá para um dono de restaurante qualquer pensar em seguir
essa ideia. Hoje em dia, poucos são os que sabem cozinhar. Em alguns casos,
nunca entraram numa cozinha!
Dá até
vontade de experimentar.
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Este é um Bistrô Doméstico parisiense, com o aconchego da amizade e a boa comida à mesa |