Tibi Dias, artista plástico de primeiríssima qualidade, natural de Ouro Preto, morador em Belo Horizonte desde sempre, amigo de longa data, foi renovar a carteira de identidade e, adivinhem, não conseguiu provar que nasceu, cresceu, estudou, casou, teve filhos e está vivo. O prefeito Marcio Lacerda precisa agir.
Leiam esta postagem que ele fez no Facebook:
"AMIGOS, VOCÊS NÃO VÃO ACREDITAR... MAS ACONTECEU.
Na última quinta-feira eu fui ao posto de atendimento PSIU,
na Praça Sete, para tirar segunda via de minha carteira de identidade que se
encontra muito deteriorada.
Agendei com uma semana de antecedência, dia e hora marcados.
Adiei compromissos e fui. Apesar de agendado, tive que pegar senha e entrar em
uma fila.
Esperei ser chamado para pagar taxa de $ 30 reais. Paguei e fui
conduzido para outra fila e esperar que minha senha fosse chamada para a entrega
dos documentos solicitados, entre eles minha certidão de nascimento.
A
atendente conferiu os documentos e saiu, pedindo que eu esperasse. Uns 5
minutos depois voltou dizendo não poder aceitar meus documentos porque minha
certidão de nascimento não explicitava que eu realmente havia nascido em Ouro
Preto. Que não havia o nome do hospital, apenas o endereço.
Eu disse que
naquela época, as pessoas não nasciam em hospital; que as parteiras iam nas
casas e faziam os partos. Que aquele endereço, por si só, já era um indicativo
do local em que eu havia nascido. E além do mais estava escrito, depois do
endereço ”naquela sub-comarca”.
A moça perguntou se eu queria conversar com “o chefe”. Claro
que eu quis. Ele repetiu a mesma cantilena e disse que eu teria que tirar
outra certidão de nascimento porque aquela não estava nos moldes da lei.
Argumentei que uma nova certidão teria que ser baseada
naquela mesma que ele dizia ser incorreta e então, também não seria confiável.
Ele foi inflexível: “ é a lei, não posso fazer nada”.
"Mas como, se, com esse documento eu cursei o primário, fiz
o secundário, entrei na universidade, comprei e vendi apartamento, tirei pelo
menos umas quatro vias dessa mesma carteira de identidade? Mostrei a última que
estava em meu bolso. Ele me olhou impassível.
Pensei em apelar para sua sensatez de quem, como “chefe”,
tem que ter discernimento, competência e poder de decisão para resolver os
problemas que porventura apareçam.
Foi aí que resolvi dar uma segunda olhada para aquela figura
sem nenhuma expressão facial, que estava postada à minha frente.
Olhei-o de
corpo inteiro; a tônica de seu corpo não estava no rosto, nem nos ombros, nem
nos olhos; estava no abdome proeminente, de quem estava contando os minutos
para sair dali e tomar umas cervejas antes de ir para casa dormir, com a
consciência tranquila do dever cumprido. Desisti.
Depois, mais calmo, pude refletir: ele queria que eu lhe
pagasse umas latinhas para “quebrar meu galho”... E eu até me senti aliviado
por ter escapado de uma terceira fila para colhimento de impressões digitais.
“Paizinho sete a um, esse!”