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Sebastião mostra o pescado de dois anos atrás, quando o lago estava sendo esvaziado para o serviço de desassoreamento e ainda tinha bagres e traíras (foto Jacob Máximo) |
Para Sebastião Nunes Soares, ou simplesmente o Tião, todo
dia é dia de pescaria. É assim que ele leva a vida, na maciota, sem esquentar a
cabeça, e sempre com muitos “causos” pra contar, a maioria de pescadores, é
claro.
O lago do Parque Santa Lúcia é seu território, faz muito tempo, desde
que chegou à capital, vindo de Coração de Minas, um pequeno distrito de Carlos
Chagas, lá pelas bandas do Vale do Mucuri, “descendo a Estrada do Boi”, como
faz questão de contar.
Fixou-se na comunidade Santa Lúcia. Viúvo, se "casou” novamente e teve dois filhos e três netos, todos morando perto, “aqui no
Morro”, diz. Casar, mesmo, só uma vez, afirma "seu" Tião: “juntei os panos”
explica.
Pescador nato, lamenta que o lago não tenha mais traíras, e
jura que não é papo de pescador, mas que já pescou uma de mais de quatro
quilos, com mais de 70 centímetros de tamanho.
Na foto de Jacob Maximo, lá está ele, exibindo o peixe.
Hoje, conta, a lagoa só tem tilápias, e os chamados breques,
que alguns confundem com o tucunaré, explica. “O breque é mais escuro, embora
se pareça com o tucunaré”, ensina.
Mesmo assim, Tião se satisfaz pescando suas tilápias de até
meio quilo: “No fim de semana tirei dez, deu pra fazer um almoço bom”, conta,
orgulhoso.
Irritação, mesmo, ele tem quando fala da neta, de 15 anos,
que gosta de sair de casa pra namorar: “Menina nova, hoje em dia, pega fogo,
depois a banana estoura, ninguém segura”, ralha, nervoso.
“Os netos querem
dominar a gente, minha neta me respondeu, isso eu não aceito”, resmunga, comparando
com o tempo em que bastava um olhar do pai para todos “enfiarem a viola no saco
e saírem de fininho, pro coro não comer com vara de marmelo”. (Post Tetê Rios)
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Hoje a pescaria de Sebastião está mais para banho de minhoca, meditação e "relembramento" dos bons tempos, quando não precisava disputar peixinhos com patos e biguás. |