domingo, 12 de julho de 2015

O engenheiro ferroviário e suas duas Marias, do Milton e da Fumaça

Baldwin 4-6-2, bitola métrica, da Rede Mineira de Viação, matrícula 325, em exposição no Museu Ferroviário de Bom Despacho.

Uma das mais belas e conhecidas composições da dupla Fernando Brant/Milton Nascimento, Ponta de Areia tem um erro geográfico imperdoável, segundo o engenheiro Roberto Costa de Almeida.

“Na verdade, o ponto final, o KM 582 da ferrovia, era em Araçuaí; Ponta de Areia era o KM zero”, afirma, com a propriedade de quem acompanhou grande parte da história da famosa Rede Mineira de Viação, a RMV, “da Bahia-Minas, estrada natural/Que ligava Minas ao porto ao mar”.

Um dos mais antigos moradores do Bairro Vila Paris, para onde se mudou em 1970, Roberto, avesso a fotografias, prefere contar histórias da ferrovia, e cita de memória:“caminho de ferro, mandaram arrancar/Maria Fumaça não canta mais/Para moças flores janelas e quintais."

Como engenheiro, era responsável pelos 4.100 Km da rede ferroviária fundada nos anos 1930, que levava e trazia mineiros, paulistas e cariocas até o começo dos “Anos  Dourados”, por volta de 1965, quando  Juscelino Kubitschek lançou o seu ousado plano de rodovias brasileiras.

Sucedida pela Rede Ferroviária Federal, a Rede Mineira de Viação viveu a troca das Maria Fumaça, as locomotivas a vapor, pelas diesel-elétricas, em um esforço de modernização da frota ferroviária. No entanto, não “vingou”.

Para Roberto, as ferrovias brasileiras foram soterradas pela corrupção.

O Brasil é essencialmente corrupto”, dispara. 

Segundo ele, os empreiteiros que construíam as linhas férreas ganhavam por quilometragem. Assim, a cada raio de 100 metros a estrada fazia uma curva, o que limitava a velocidade dos trens a 42 KM/hora.

Por isto, segundo ele, o tão falado trem bala ligando o Rio a São Paulo é uma balela eleitoreira. "Não sai, o custo é muito alto, da construção à manutenção e gastos com pessoal, não sai nunca”, garante.(Post Tetê Rios)

Locomotiva a vapor nº 339, a boa e velha Maria Fumaça, da Rede Mineira de Viação, na Estação Central de Belo Horizonte Foto: Arquivo da família de Lucas Lopes

Ponte Presidente Getúlio Vargas, sobre o Rio Paraíba do Sul, para a passagem de trens da Rede Mineira de Viação. Toda construída na Bélgica, em sistema de pré-moldagem, foi montada em Barra do Piraí por engenheiros mineiros da Sapucahy

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